PJL-46

Considerações a respeito do risco de explosões de pó no campo do tissue

Como se sabe, o principal risco proveniente da inflamabilidade das matérias-primas e dos produtos acabados no campo do tissue é o fogo. Com base na ocorrência, o risco de explosões de pó certamente é menos relevante.

Alessandro Mazzeranghi


Se considerarmos a questão sob o aspecto de dano em potencial, o nível de criticidade é inverso. É verdade que um bom projeto/uma boa execução de sistemas e procedimentos de combate a incêndios é uma garantia razoável para a contenção de danos a pessoas e objetos, mas para conter uma explosão ocasional, as medidas eficientes são poucas e espaçadas. Então, a regra é evitar que as explosões ocorram..


CLASSIFICAÇÃO DAS ÁREAS E AVALIAÇÃO CONSEQUENTE DO RISCO DE EXPLOSÃO. Pessoalmente, estou convencido de que, muitas vezes, ao considerar o risco de explosão de pó, baseamos nosso raciocínio em um fundamento um tanto incerto, ou seja, a classificação das “áreas com risco de explosão” que obedece à diretiva 94/9/EC e às normas técnicas correspondentes. Agora, em relação aos gases, a classificação é uma prática rigorosa com base em fenômenos claros e que se repetem (por exemplo, a forma como o metano vaza de uma gaxeta com defeito e se espalha pelo espaço ao redor até que ele está tão diluído que uma explosão não é mais possível devido à falta de combustível); mas, no caso do pó, o conceito de classificação pode ser, como já dissemos, incerto.


CONSIDERANDO QUE O Pó INFLAMÁVEL POSSUI UM TAMANHO FINO DE PARTÍCULA (pó produzido pela máquina de papel), podemos nos perguntar se esse pó - do qual analisamos uma amostra - é realmente potencialmente explosivo, e se nosso processo de produção é capaz de gerar uma concentração maior do que o limite inferior para explosão (para nuvens de pó). Muito provavelmente, a resposta seria: sim, o pó é potencialmente explosivo; não, a nuvem de pó não apresenta pó suficiente para possibilitar uma explosão. Claro! Porque nós consideramos o ciclo de produção que produz uma quantidade limitada de pó por unidade de tempo e metro cúbico de ar. Sendo assim, nós descobriremos que qualquer problema pode acontecer nos aparelhos de sucção, mas, acima de tudo, nos filtros. E nós certamente sabemos (!?) como deixá-los seguros.


NATURALMENTE, NOS SENTIMOS CONFORTADOS POR ESTE ESTUDO; um especialista vem, examina nossa planta e nos diz que o risco de explosão se limita a alguns elementos localizados fora das estruturas da fábrica, onde existem poucas pessoas, e que, de qualquer forma, esses elementos (o filtro que mencionamos) podem se tornar seguros muito rapidamente.

Mas estamos realmente tão seguros? Surgem algumas questões importantes:

• A primeira é banal: e se mudarmos as matérias-primas e os produtos? As mesmas considerações continuam válidas? Obviamente, alguns papéis tissue produzem mais pó do que outros quando convertidos, provavelmente com tamanho de partícula ainda menor, então, se os introduzirmos no nosso ciclo de produção, as condições do processo variam a ponto de modificar a classificação.

• A segunda questão: temos certeza de que não há outras situações que podem concretamente gerar nuvens de pó perigosas? Pode haver acúmulos de pó em algum lugar, formados ao longo do tempo que, se removidos de maneira inadequada, podem gerar uma atmosfera explosiva.

• E também: temos certeza de que os filtros realmente são seguros? Em teoria, eles são, mas basta que, durante um processo de manutenção, o piso seja removido e não reinstalado, e eles podem se tornar bombas em potencial. E se alguém se sentir seguro com o fato de que isso ocorre fora das instalações, é bom lembrar que, em muitos casos, o pó volta para dentro através das mangueiras de sucção.

Outro fenômeno que não deve ser subestimado é a chamada “explosão secundária”. Por exemplo, a explosão dentro de um filtro, além do efeito destrutivo direto, também causa uma movimentação de ar muito forte que pode levantar qualquer pó presente no ambiente que, devido ao efeito da energia disponível após a primeira explosão, poderia, por sua vez, explodir. Então, a primeira explosão pode ser seguida por uma segunda explosão, muitas vezes mais devastadora e ampliada.


FENÔMENOS CONHECIDOS E RELATIVAMENTE SIMPLES, que não são, entretanto, imediatamente fáceis de avaliar quando as leis e normas vigentes são cegamente obedecidas. Para qualquer um que deseja se aprofundar nesse assunto, há um caso real descrito em um breve vídeo disponível no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Jg7mLSG-Yws (a explosão da fábrica Imperial Sugar reconstituída por órgãos investigativos).

Então, concluindo: a classificação é um instrumento útil, mas continua sendo um instrumento de apoio. O núcleo da questão deve ser a avaliação de risco.


AVALIANDO O RISCO DE EXPLOSÕES DE Pó. Como já tentamos destacar, a questão é não negligenciar a consideração com base somente nos resultados de classificação, mas mantê-la incompleta. Uma avaliação de risco mais ampla é necessária, e ela começa com a consideração completa dos possíveis cenários (normal, incidental e também excepcional) que podem surgir em “uma emergência com pó ATEX”. Um exemplo é um incidente um tanto banal ligado à manipulação de um saco grande de pó inflamável (um aditivo) do veículo de transporte para a prateleira. O saco já estava rasgado ou foi danificado ao ser erguido pela empilhadeira que o descarregava. De qualquer forma, ele começou a liberar partículas de pó, criando um tipo de pó. O motorista da empilhadeira, que não recebeu instruções específicas, agiu de acordo com seu próprio julgamento e, no fim das contas, causou uma explosão, felizmente com consequências mínimas para pessoas e objetos, mas somente porque o incidente ocorreu em uma área aberta... Você encontraria tal caso real na sua avaliação ATEX? E, se não o encontrar nessa avaliação, onde ele seria considerado dentro da avaliação de risco para saúde e segurança ocupacional?


PRECISAMOS VOLTAR AO BÁSICO, seguindo um curso elementar mas válido para todos os riscos:

• As condições iniciais para criar uma situação de perigo com pó ATEX existem? Traduzindo, isso significa: • Existem pós inflamáveis no meu local de trabalho?

• Esses pós possuem características físicas que podem gerar um perigo ATEX?

• Elas poderiam estar presentes em quantidade suficiente (também por meio de acúmulo) para criar - mesmo que somente na pior das hipóteses - uma situação de perigo ATEX? Se todas as respostas forem afirmativas, ou seja, se o perigo de pó ATEX pode existir, então prosseguimos com uma verdadeira avaliação de risco considerando todos os cenários possíveis que podem concretamente levar a este problema e considerando se as medidas atuais são adequadas para: • Evitar a formação de atmosferas explosivas

• Evitar o início de atmosferas explosivas

• Proteger produtos e pessoas das consequências de possíveis explosões.


PARA CONCLUIR, UMA BRINCADEIRA. Durante um curso de treinamento nesse assunto, poderíamos descrever este exemplo: minha sogra quer preparar tagliatelle (típica massa italiana) com ovos usando 2 kg de farinha, ovos (como indica o nome) e água. Ela resolveu fazer a massa na mesa da cozinha. Nesse momento, um prato com um tempo de cozimento de várias horas está sobre o fogão. A farinha, obviamente, vem em um pacote. Há um problema de pó ATEX aí? Banal, quase infantil; mas, nas nossas fábricas, é fácil esquecer uma hipótese tão simples quanto essa e subestimar o risco de explosão que certamente temos em nossa sala das caldeiras ou na área de nosso co-gerador! *



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