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A opinião de Wall Street sobre o tissue e produtos de consumo

Ali Dibadj é Vice-presidente Sênior e Analista Sênior da Sanford C. Bernstein, em Nova York. Como analista financeiro, ele aconselha grandes investidores institucionais, incluindo fundos de pensão nos quais aplicar o dinheiro no mercado de ações. Após vários anos como consultor da McKinsey nas áreas de produtos de consumo e varejo, ele passou a se encarregar das ações de produtos de consumo para a Sanford C. Bernstein há cerca de oito anos. Atualmente, ele acompanha os grandes atuantes desse setor, como Procter & Gamble, Kimberly-Clark, Estée Lauder, Coca-Cola e muitos outros. Nós nos encontramos com ele para aprender como ele trabalha e ter uma ideia de como ele avalia algumas das grandes empresas no ramo do tissue.

 Hugh O’Brian

“Em essência, uma recomendação de compra ou venda é baseada na comparação da minha melhor análise sobre o que o crescimento e os ganhos de uma empresa irão proporcionar versus o que o mercado parece estar esperando. Para chegar a essas conclusões, comparo três dados principais com o consenso principal sobre a empresa. Os três dados principais incluem 1.
O que as empresas irão me proporcionar, incluindo expedientes públicos e discussões com a administração; 2. O que eu fico sabendo em congressos e eventos do setor, onde tenho discussões mais amplas sobre a dinâmica do setor; 3. Nossa própria rede de informações utilizando fontes internas, além de dados externos como os números Nielsen.

COMPARANDO NOSSA ANÁLISE COM O CONSENSO DO MERCADO.
Utilizando essa informação, julgamos se, na nossa opinião, as empresas serão bem-sucedidas com base em sua estratégia declarada de crescimento, corte de custos, rentabilidade, etc. Então, comparamos nossa análise com o que o mercado está nos mostrando e, se observarmos perspectivas melhores, fazemos a recomendação de compra. E se nossa análise demonstrar perspectivas mais negativas do que o mercado está exibindo, por exemplo, se o mercado sente que a empresa crescerá em até 10%, e nós sentimos que vai crescer 2%, mandamos vender. O essencial é julgar se nossa conclusão difere daquilo que a informação geral do mercado está dizendo".
Um dia antes de minha visita a ele, as ações da Coca-Cola caíram 8%, que é uma queda enorme. Já que Ali cuida de ações da Coca-Cola, ele diz “Passei a noite acordado”.

O QUE CAUSOU A QUEDA?
Expectativas não foram cumpridas. O mercado esperava um crescimento muito mais rápido no ano que vem, e um corte de custos muito mais alto. A Coca-Cola anunciou ontem que esses dois fatores não aconteceriam conforme planejado. A notícia foi divulgada, e as ações caíram.”Outro fator que influencia a validação de uma ação é se realmente há potencial para melhora.
“Como analista, se eu achar que há potencial para melhorar o resultado, então eu me sinto atraído por aquela ação. Claro que devo confiar que a equipe de gestão em atuação tem capacidade de por em prática a estratégia exigida para extrair esse potencial. Se tiver, uma possível virada representa uma boa oportunidade para lucrar com o preço das ações.”
“Várias empresas de produtos de consumo devem alterar seu pensamento de crescimento para PEQUENO crescimento. Claro que é possível fazer tal transição de forma rentável, mas geralmente é necessário que a gestão tenha uma forma de pensar muito severa para cortar custos da forma certa e, ao mesmo tempo, manter a rentabilidade e o moral. Quando o crescimento é muito lento, isso deve ser feito, porque brigar por parcelas de mercado em uma categoria em declínio é uma guerra de preços tola e decadente.”

EMPRESAS DE TISSUE DEVEM TOMAR DECISÕES DIFÍCEIS.
Observando o setor do tissue, Ali diz que a Kimberly-Clark representa a empresa que aperfeiçoou lentamente, mas de forma contínua, seu foco nos setores de valor mais alto. “Ela vendeu seus ativos de polpa e floresta ao longo dos anos, livrando-se de negócios e regiões com margem baixa, e tomando decisões difíceis para transformar a empresa. Ela abandonou países onde não obtinha lucros aceitáveis, e recentemente ramificou sua área de saúde, cujo desempenho estava abaixo do esperado. A SCA da Suécia passou por um processo muito semelhante de aperfeiçoamento de seu foco nos últimos anos. A cmpc e algumas outras também estão tomando esse rumo.”

AMÉRICA DO NORTE MUITO COMPETITIVA, COM EXCESSO DE CAPACIDADE NO SEGMENTO PREMIUM.
“Os mercados de tissue atualmente estão difíceis. Na América do Norte, tem muito dinheiro sendo perdido, com grandes quantidades de nova capacidade chegando por aí. Todos acreditam, em comparação a outras categorias de papel, que o tissue é mais atraente, então todos pensam ‘Vamos investir nisso. O mercado de tissue não está encolhendo, como acontece com papéis de impressão.
’ Mas está crescendo apenas 1%, acompanhando o crescimento da população, e tem muita gente entrando no mercado.”
“Conforme novos atuantes aparecem, atuantes já estabelecidos tentam defender sua parcela de mercado, e a pressão sobre os preços em declínio aumenta, enquanto eles competem. A festa acabou lotando, já que alguns atuantes cortam os preços em massa para proteger sua parcela de mercado. Chegará o momento em que atingiremos um equilíbrio de preços, mas a capacidade mais antiga e menos eficiente precisa se expor na América do Norte para que isso aconteça. Geralmente, o precursor do encerramento de uma capacidade é um ambiente competitivo muito brusco, como o que estamos vendo agora.”O cerne do problema é que quase toda a nova capacidade se concentra no segmento de qualidade premium do mercado.
E, geralmente, é um produto de marca particular, mas a qualidade é muito maior do que a da marca particular antiga. Produtos TAD ou de qualidade semelhante à do TAD estão disponíveis a preços extraordinariamente baixos atualmente, e isso protegeu o TAD. Parcelas de mercado que anteriormente pertenciam à Procter & Gamble, Kimberly-Clark e Georgia-Pacific, agora estão abertas a outros. Sinceramente, se a empresa não tiver um portfólio diversificado de produtos além do tissue, enfrenta uma pressão extraordinária. A GP vem perdendo parcela de mercado e cortando preços para reagir a isso, e as outras devem acompanhar. Então, acredito que outras capacidades serão encerradas no ano que vem. Não há outra opção.”

O TISSUE REALMENTE SE ENCAIXA NA KC E NA P&G?
“Analisando de forma mais ampla, sentimos que o ramo de consumo do tissue não se encaixa muito bem no ramo de cuidados pessoais da Kimberly-Clark. Eles passaram por várias iterações ao desinvestir em diferentes ramos com a recente ramificação da divisão de saúde. A ideia original para o ramo de saúde na K-C era que vendiam muito tissue e produtos absorventes a hospitais, então por que não aumentar a curva da sofisticação e utilizar esses canais para vender aventais descartáveis, tubos, etc.? Mas realmente não deu certo como planejado, daí a ramificação.”
“A Procter & Gamble enfrenta uma questão ainda maior, já que o tissue para consumo somente é vendido nos eua e esse ramo não apresenta mais a trajetória de crescimento que apresentava; agora, está desacelerando. Trata-se de um ramo de US$ 5 bilhões que está crescendo lentamente, então realmente segura seu crescimento corporativo e seu ROIC (retorno de capital investido). É um ramo pesado para eles em termos dos recursos de fabricação e capital de investimentos necessários, comparando-se a qualquer outro setor em que atuam.”
“Já faz tempo que achamos que a P&G deve agir como agiu na Europa e descartar o ramo do tissue nos EUA. O desafio será encontrar um comprador disposto a pagar o alto preço que a P&G precisa pedir, considerando que sua base fiscal para o ramo do tissue é essencialmente zero, já que ele foi elaborado organicamente. Assim, terão uma conta fiscal muito alta a pagar pelo ganho de capital e, portanto, precisam de um preço alto para justificar a venda. O ramo do tissue impulsiona um grande fluxo de caixa, mas, do ponto de vista estratégico, não sei se a Procter & Gamble se encaixa nele. Talvez ele se ramifique em um ramo separado.”
“Então, para resumir, o setor está ficando muito emocionante, porque está em um estado de mudança jamais visto. Líderes de empresas precisam compreender que não é um cenário de 'crescimento normal’, embora haja potencial para crescimento por meio de inovações e em novas geografias, mas ele será mais lento do que antes. Acho que também há uma escala mais global para a M&A, e talvez a SCA seja a única que fará mais aquisições. Embora eu normalmente não goste de aquisições, já que elas sempre são difíceis de assimilar, esta consolidação pode ser a melhor maneira de a indústria do tissue seguir rumo a uma melhor rentabilidade tanto na América do Norte quanto globalmente.” *

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