PJL-43

Desaceleração da economia e excesso de capacidade causam problemas na China

Esko Uutela, Principal, Tissue, EU Consulting/RISI

 

A Associação Nacional da Indústria de Papel para uso Doméstico da China (CNHPIA, sigla em inglês para China National Household Paper Industry Association) divulgou recentemente o seu relatório anual sobre o desenvolvimento do mercado e da indústria chinesa de tissue e produtos para higiene durante 2013. Comentários dos participantes do mercado e fornecedores indicaram que no final de 2013 o crescimento do mercado desacelerou, e os números recentemente publicados pela CNHPIA confirmaram estes relatórios. A produção e as vendas de tissue aumentaram 8,5% em 2013, mas o consumo cresceu apenas 7,2%, de acordo com a CNHPIA. No entanto, os dados que temos referentes ao crescimento no consumo são menores, 6,7%, pois a CNHPIA parece excluir dos seus dados de exportação a categoria “outros” (o código 48.18.900, do Sistema Harmonizado, que inclui produtos como tissue para uso médico e muitas outras especialidades, assim como rolos de tissue com largura inferior a 36 cm).

Os dados de produção fornecidos pela CNHPIA são considerados a melhor estimativa disponível para a indústria chinesa de tissue, uma vez que se baseiam em dados recebidos de um grande número de empresas, embora muitos fornecedores não queiram publicar seus números de produção individual, o que foi o caso no passado. Nós não concordamos com os números de crescimento recentemente publicados pela Associação de Papel da China (CPA, sigla em inglês para China Paper Association), que foram de somente 1,9% e 0,4% para 2013, respectivamente, para crescimento de produção e de consumo de tissue. Os números históricos da CPA também mostram uma inacreditável variação de ano para ano, e nós pensamos que os dados da CNHPIA estão muito mais próximos dos relatórios que ouvimos das empresas de tissue, fornecedores de máquinas e outros operadores do mercado.

Os últimos 10 anos, 2003-2013, apresentaram um crescimento médio de 8,7% ao ano para a produção de tissue, 3,5% ao ano para o total de importações, 14,2% ao ano para total de exportações e 8,1% ao ano para consumo de tissue. O crescimento das exportações de tissue acelerou recentemente - em 2012 o crescimento foi de 19%, em 2013 foi de 25%, e nos primeiros cinco meses de 2014, o crescimento foi maior que 30%. No entanto, o crescimento das exportações para todo o ano de 2014 deve ser menor do que nos primeiros cinco meses, já que as exportações chinesas de tissue cresceram particularmente fortes no segundo semestre de 2013 e é mais provável que este crescimento não possa ser repetido no final de 2014, considerando a situação global de fornecimento/demanda nos mercados de tissue.

 

A DEMANDA DE TISSUE SEGUE O CRESCIMENTO ECONÔMICO, EMBORA NÃO MUITO DE PERTO. O desenvolvimento econômico e os fatores demográficos como o crescimento da população e grau de urbanização, são os principais drivers para o consumo de tissue em todas as economias emergentes, incluindo a China. Olhando o desenvolvimento a longo prazo da China, de 1993 a 2013, é possível ver que as taxas de crescimento real do PIB e o consumo de tissue seguem um ao outro, mas não estritamente, com alguma variação anual na relação (Figura 1).

A relação média entre o crescimento do consumo de tissue e o crescimento do PIB é próxima da paridade (0,98) no período de vinte anos, mas varia entre 1,60 em 1998 e 0,44 em 2007, quando o PIB cresceu 7,8% e 14,2%, enquanto o consumo de tissue cresceu 12,6% e 6,2%, respectivamente. (Figura 1). As perspectivas futuras para o crescimento econômico não são muito promissoras quando comparadas às taxas de crescimento do passado, mas vistas globalmente, são ainda muito positivas. A previsão da RISI para o PIB em dez anos sugere uma média de taxa de crescimento de 6,6% para o PIB real em 2013-2023, e o consumo de tissue deve crescer no mesmo ritmo. O crescimento populacional está também desacelerando para cerca de 0,5% ao ano, o que não está contribuindo para a demanda de tissue. Mas a divisão entre a população urbana e rural vem mudando rapidamente em favor da população urbana. Em 2013, quase 54% da população chinesa vivia em áreas urbanas, enquanto que em 2000 a população rural respondia por 64% da população (Figura 2). Em junho de 2013, o governo chinês anunciou um plano para mover 250 milhões de residentes rurais para cidades recém construídas durante os próximos doze anos. Estas medidas para acelerar a urbanização contribuirão fortemente para o crescimento do consumo de tissue chinês.

 

A CHINA NÃO DEVE SER CONSIDERADA COMO UM MERCADO INDIVIDUAL. como muitos estrangeiros a vêem, é um país enorme, com regiões em fases bem diferentes de desenvolvimento. Isto também se aplica ao consumo de tissue. Os resultados do estudo de tissue chinês da RISI, com foco especial nos desenvolvimentos regionais da China, mostra claramente que as oportunidades de negócios são diferentes em várias partes da China. Um bom exemplo disso é mostrado por diferenças importantes no consumo per capita de tissue entre as oito regiões econômicas definidas oficialmente na China. Com mais de 11 kg/per capita em Xangai e mais de 9 kg/per capita em Pequim, as Zonas Econômicas Ocidental, Central e do Nordeste mostram apenas números na faixa de 3-4 kg/per capita, diminuindo a média de consumo per capita para apenas 4.5 kg em 2013. Isso significa que ainda há um grande potencial inexplorado, mas as perspectivas são melhores na China Central, onde o desenvolvimento econômico continua até duas vezes mais rápido que na China, em média. (Figura 3)

 

INVESTIMENTOS EXTREMOS LEVARAM AO EXCESSO DE CAPACIDADE, CAUSANDO ATRASOS NO PROJETO. O crescimento rápido do mercado chinês atraiu ambos, fornecedores de tissue e novos empresários, à investirem em novas capacidades de tissue na China. A economia chinesa é bem regulamentada pelo governo em vários aspectos, mas não parece haver nenhum mecanismo de controle para novos investimentos no setor de tissue, apenas fechamentos obrigatórios para fábricas antigas poluentes e que desperdiçavam energia.

A questão principal é que poucos fornecedores de tissue chineses parecem basear seus planos de expansão em perspectivas de mercado realistas ou no equilíbrio fornecimento/demanda regional, na expectativa de que o crescimento do mercado irá absorver a nova capacidade de qualquer maneira. Este pode ter sido o caso de 10 anos atrás, mas não mais hoje em dia, já que muitas empresas estão fazendo esforços de marketing para crescer com base em hipóteses, pelo menos em parte, irreais, sobre possíveis ganhos de participação no mercado e expectativas de expansão. A maioria dos maiores fornecedores de tissue chineses teve que mudar o seu calendário para adições de capacidade. Estas empresas incluem a Gold Hongye (APP), a Hengan International e a C&S Paper, e muitas empresas de pequeno porte. Das quatro maiores empresas, apenas a Vinda Papel, agora majoritariamente adquirida pela SCA, não adiou oficialmente sua expansão planejada de 130.000 toneladas por ano, em duas fábricas nas Províncias de Guangdong e Zhejiang, anunciada para o final deste ano, mas por outro lado, não há detalhes disponíveis sobre fornecimento de equipamentos, tempo ou outras especificações. Alguns dos novos concorrentes potenciais, incluindo a APRIL, por exemplo, estão ainda considerando seriamente se entram ou não no negócio do tissue. Alguns outros players, incluindo a Sun Paper e Lee& Man, parecem estar a caminho de realizarem seus planos. A Sun Paper já estabeleceu sua base de conversão e marcas de tissue, e a primeira PM já foi iniciada.

A situação do mercado parece não estar assustando todos os participantes do mercado e seus planos ambiciosos. Uma dessas empresas a se mencionar é a Shandong Tralin Paper, agora a caminho de mudar seu nome para Shandong Tranlin, baseada em Liaocheng, Shandong.

A empresa também é conhecida por sua produção de tissue à base de pasta de palha, e tendo provado pessoalmente seus produtos, devo dizer que a qualidade não é ruim. A empresa tem planos de adicionar um grande número de máquinas de tissue chinesas à sua fábrica em Shandong, acrescentando pelo menos 250.000 toneladas de nova capacidade por ano, e até mesmo perto de 400.000 toneladas por ano estão em discussão. Além disso, a empresa recentemente anunciou um plano de investimento de US$2 bilhões para uma fábrica integrada de pasta de palha e tissue na Virgínia, nos EUA, o que seria um passo muito ousado dado pela empresa chinesa.

No entanto, nós não temos tanta certeza do quão realista este plano é, particularmente quanto ao financiamento, mas também quanto à comercialização do produto em um mercado totalmente novo, com condições competitivas complicadas.

Portanto, a questão principal é como pode ser financeiramente realizado, mas claro que nós não sabemos se eles têm apoio financeiro de algum dos principais players dos EUA, já que a Kimberly-Clark anunciou recentemente seu desejo de testar pastas que não sejam de madeira em seus produtos, incluindo polpa de bambu, na primeira linha, mas também outras pastas que não sejam de madeira, incluindo pasta de palha, não foram excluídas. Mas não há anúncio oficial sobre esses dois planos.

 

O FECHAMENTO DE FÁBRICAS ANTIGAS AJUDOU PARCIALMENTE A SITUAÇÃO DO EXCESSO DE CAPACIDADE CHINESA, mas esperamos que o pico desses fechamentos já tenha passado, para que menos capacidade seja fechada nos próximos anos, pelo menos com base em regulamentos mandatórios do governo chinês. Razões financeiras ou de rentabilidade podem ser outro caso, mas não gostaríamos de especular com tais eventos. Em 2012-2013, algumas das maiores reduções de capacidade foram por questões financeiras, incluindo algumas importantes empresas, como Ningxie Meijie, Guangdong Huizhou Fook Woo, Ningxia Sand Lake Paper, Shanghai Potential Paper, e muitos outros pequenos produtores.

Excesso de capacidade caracteriza os negócios do tissue chinês no momento, e parece que a situação não irá melhorar nos próximos anos sem alguns cortes radicais na capacidade. Atrasos anunciados já mudaram a situação, mas ainda não são suficientes. Não se espera que o mercado chinês cresça mais do que 400-500.000 toneladas por ano em 2014-2016, e a perspectiva atual é de que duas ou até três vezes mais capacidade esteja agora em processamento.

Fechamentos e atrasos podem ajudar, mas apenas parcialmente, não significando mudança radical na situação. As exportações estão crescendo, mas existem limites baseados no excesso de capacidade global e nos altos custos de transporte, limitando a lucratividade das exportações para locais mais distantes do que a região Ásia-Pacífico. (Figura 4)

 

 

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